"A situação de uma portadora de glaucoma que chega ao consultório oftalmológico grávida é complicada, porque vai precisar decidir rapidamente entre utilizar colírios que podem fazer mal ao bebê em formação, suspender os medicamentos e correr o risco de agravamento da saúde ocular da mãe ou realizar uma cirurgia para diminuir a pressão intraocular da gestante", alerta a médica do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Luciana Malta de Alencar, doutora pela USP.
Segundo a especialista em glaucoma do HOB, ao planejar a gravidez, a portadora de glaucoma deve procurar um oftalmologista e realizar testes de suspensão e substituição da medicação, identificar a gravidade da doença por meio de exames e optar pela melhor abordagem de tratamento.
"Às vezes, o médico pode sugerir a cirurgia antes da gravidez para evitar problemas com anestesia local. Esse tratamento leva de um a dois meses pra trazer os primeiros resultados e pode garantir uma gestação mais saudável para a mãe e para o bebê", avalia.
O glaucoma é resultado do dano no nervo óptico determinado, em grande parte dos casos, pela pressão intraocular inadequada. Frequentemente, acomete pessoas com mais de 50 anos de idade, mas há variações como o congênito, o juvenil e o secundário (derivado de traumas oculares), que estão presentes nas pessoas em idade fértil.
De acordo com a médica, as medicações para o tratamento de glaucoma não foram submetidas a estudos com mulheres grávidas, capaz de comprovar efeitos negativos ou não sobre o feto. A Food and Drug Administration (FDA), entidade que regula o uso de medicamentos nos Estados Unidos e serve de parâmetro para o mundo, criou uma classificação de segurança, associando o risco na gravidez ao consumo de qualquer medicamento.
No nível de risco A, não há evidência de risco na gravidez, já que estudos bem controlados não revelaram problemas. No risco B, não há estudos adequados em mulheres e na experiência com animais não foi encontrado risco. No nível de risco C, não há estudos adequados em mulheres e as experiências animais mostraram efeitos colaterais no feto ou não há estudos nem em animais. Com o risco D, há evidências de risco, mas são medicações liberadas em algumas situações. E no risco X, os estudos revelaram anormalidades em fetos ou evidências de risco para o feto e são medicações proibidas às gestantes.
Medicamentos
Em mulheres grávidas com glaucoma, os médicos costumam receitar um medicamento que tem a classificação de risco B, como substituto dos demais colírios utilizados habitualmente. "Todas as outras medicações para glaucoma mostraram, em estudo com animais, algum tipo de efeito sobre a criança. Mas nem todos esses efeitos têm relação com a má formação do feto, podem levar também a um parto prematuro ou ao baixo desenvolvimento do bebê", esclarece Luciana.
Este medicamento é a primeira opção quando a glaucomatosa que deseja engravidar apresenta índices de pressão intraocular elevados e precisa suspender a medicação, mas é também o primeiro a ser suspenso após o nascimento do bebê. "Esse medicamento pode ser passado para a criança através da amamentação e desencadear efeitos colaterais que vão de sonolência a desmaios por baixa frequência respiratória", alerta a oftalmologista.
Após o nascimento do bebê, o médico realiza uma avalição e redefine os medicamentos que a mãe com glaucoma pode voltar a utilizar sem que haja prejuízos ao recém-nascido ou a sua própria saúde.
Cirurgias
Laser: Diante do planejamento da gravidez, a cirurgia a laser é uma alternativa para o tratamento do glaucoma. "Se a portadora de glaucoma tem condições físicas de submeter-se ao procedimento com o laser para diminuir a pressão intraocular, é uma ótima opção. Esta alternativa pode substituir todos os colírios durante a gravidez. O laser aumenta o escoamento do humor aquoso dentro do globo ocular e diminui a pressão interna do olho", explica Luciana Malta.
A médica do HOB lembra que a gravidez altera o funcionamento do organismo da mulher como um todo e, em alguns casos, a pressão intraocular abaixa naturalmente, permitindo controlar o avanço do glaucoma. "Às vezes, é possível tirar essas medicações e a paciente leva a gravidez com tranquilidade, sem o uso de nenhum medicamento porque a pressão não sobe", conta.
A especialista diz que, mesmo quando há uma diminuição natural da pressão interna do olho, a gestante com glaucoma precisa submeter-se a um acompanhamento médico mensal e controle rigoroso da pressão intraocular. "Este controle é importante porque há situações nas quais a pressão pode voltar a subir e comprometer a visão, exigindo até intervenção cirúrgica de emergência para evitar a cegueira da mãe. Não é comum, mas acontece. Por isso, não é aconselhável que grávidas com glaucoma suspendam medicamentos por conta própria", recomenda.
Fonte: http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-34--9-20130403&tit=mulheres+com+glaucoma+devem+planejar+a+gravidez
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